A grande escritora gaúcha Lya Luft já disse que “a infância é um chão que pisamos a vida inteira”. Essa metáfora – muito poética, inclusive – apresenta uma realidade já apontada pela ciência: o cuidado com a criança durante os seus primeiros 5 anos afeta o resto da vida dela.
Ao se considerar que a idade média do brasileiro é de 77 anos, segundo dados do IBGE/2022, aproximadamente 72 anos da vida dos indivíduos são marcados pelo que acontece na primeira infância. É muito tempo afetado pelas ações e escolhas dos responsáveis durante a primeira infância.
Essas ações, por sua vez, não se restringem apenas aos familiares, uma vez que se estendem aos outros adultos que fazem parte da vida regular da criança. Isso significa que os pedagogos e os professores da educação infantil também têm papel de destaque nesse processo, pois o trabalho pedagógico influencia o desenvolvimento integral da criança, ou seja, há impacto em todas as suas dimensões: intelectual, social, emocional, física e cultural.
Tudo isso mostra a necessidade da atualização constante sobre as práticas pedagógicas para garantir o melhor desenvolvimento na primeira infância. Para saber mais sobre esse momento e entender o papel do pedagogo, continue a leitura.
A importância da primeira infância
A primeira infância é o período que vai do nascimento aos 5 anos de vida. Segundo os conceitos da área de Psicologia, esse é o momento em que a cognição, ou seja, o conjunto de habilidades que um indivíduo tem para perceber, interpretar, conhecer e prever os mais variados estímulos, desenvolve-se de modo acelerado.
Essa aceleração acontece porque, nos anos de vida iniciais, o cérebro trabalha de modo veloz, conectando mais de 1.000 células por segundo. Com isso, ainda que não entendam tudo o que acontece à sua volta, as crianças absorvem todas as informações e estímulos a que são expostas.
Assim, quando recebe bons estímulos e incentivos, o cérebro infantil reage beneficamente a isso; da mesma forma, quando as crianças estão inseridas em um ambiente hostil, as consequências normalmente são desastrosas a longo prazo.
Benefícios dos cuidados com a Primeira Infância
Como a infância é um período determinante, crianças que recebem cuidado, afeto, educação de qualidade e têm boa interação com os adultos desenvolvem habilidades que as acompanharão durante a vida toda.
Uma das formas de desenvolver essas competências é por meio do brincar, pois as brincadeiras, sejam com outras crianças, sejam com os mais velhos, são essenciais para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social.
Com relação ao desenvolvimento cognitivo, os desafios apresentados durante as brincadeiras possibilitam que a criança descubra novos conhecimentos e os utilize no seu cotidiano. Vygotsky já dizia que o brincar é uma atividade relacionada ao criar, pois a imaginação, a fantasia e a realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, assim como novas formas de construir a relação com o outro, adultos e/ou crianças.
Quando o pequeno brinca, há o desenvolvimento de novas habilidades, como expressão corporal e oral, além do estímulo à criatividade. Em meio a tudo isso, o vínculo com outras crianças e adultos favorece a construção de valores e o entendimento de regras, e possibilita autocontrole na conduta.
Visto que o ato de brincar na primeira infância é essencial para o desenvolvimento, as brincadeiras devem estar presentes na rotina da criança, em sua casa e no cotidiano da instituição infantil, sendo realizadas com o tempo adequado. É perceptível, então, a importância de ambientes adequados para que esse desenvolvimento ocorra de modo saudável.
Dessa forma, o ambiente em que a criança está inserida na primeira infância, tanto o familiar quanto o escolar, é relevante porque, se for acolhedor, propício e favorável à brincadeira e à aprendizagem, consequentemente a criança poderá se desenvolver de maneira livre e plena.
Fatores de risco na Primeira Infância
Da mesma forma que o bem-estar social gera um resultado positivo na primeira infância, situações de violência, desnutrição, negligência ou quaisquer outras adversidades também afetam negativamente o desenvolvimento infantil.
A desvantagem socioeconômica é um fator que afeta desfavoravelmente o desenvolvimento, porque influencia o tipo de ambiente em que a criança cresce. Assim, caso o ambiente seja de pobreza extrema, de violência, de condutas duvidosas ou apresente instabilidade familiar, há chances de o pequeno apresentar problemas de comportamento e de socialização, o que pode impactar sua aprendizagem e o desenvolvimento de suas habilidades.
Isso ocorre porque, quando há desamparo, algumas habilidades importantes, como lidar com frustrações e seguir regras, muitas vezes são prejudicadas, além de aumentar a predisposição para traumas, transtornos e problemas psicológicos, que deverão ser tratados na vida adulta.
Tal situação se dá porque, segundo Vygotsky (1987), o sujeito é interativo, ou seja, como a criança não fica isolada no ambiente em que está inserida, todo o contexto que a rodeia influencia sua concepção de mundo, já que ela utiliza os exemplos para criar sua subjetividade e mediar suas relações.
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A importância do pedagogo na Primeira Infância
Como visto, a educação é primordial para o desenvolvimento infantil, já que a aprendizagem acontece de maneira intensa durante os primeiros cinco anos de vida. Esse é o conceito chamado janela de oportunidade.
A janela de oportunidade é o período em que as habilidades de desenvolvimento acontecem de forma mais fácil, quando os estímulos adequados e as experiências certas são oferecidos. Ainda que as crianças passem a maior parte dessa fase com seus familiares, é na escola que, por meio da educação formal sistematizada e intencional, a criança poderá ampliar essas experiências.
Desse modo, o papel do profissional de pedagogia é primordial para garantir que, nessa fase, ocorra muita aprendizagem e um bom desenvolvimento, pois os professores, com suas propostas pedagógicas fundamentadas cientificamente, sabem como estimular esse período de maneira efetiva.
Assim, já que essa fase da vida é tão especial, o pedagogo que atua na primeira infância precisa apropriar-se de conhecimentos específicos e desenvolver habilidades imprescindíveis.
Entre essas habilidades, destacam-se a compreensão das necessidades da criança nessa fase, o favorecimento de atividades que permitam o desenvolvimento livre da criança e a formação do pensamento crítico, a colaboração com as famílias, a atualização constante sobre as propostas pedagógicas para a primeira infância, além da compreensão sobre o contexto em que a criança está inserida.
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